quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Rhynocette

A mulher em cena naquele quarto, naquela tarde, naquela cama, naquela nudez que somente a ela poderia pertencer, exercia com talento uma delicada forma de poder sobre mim. Seu nome era Taís e ela tinha os cabelos muito negros e desajeitados, quimicamente obscurecidos e ainda assim cacheados por natureza. Eles desciam até o seu redondo queixo, que parecia inseguro. Olhos castanhos muito vivos e abertos conspiravam com narinas dilatadas e lábios que pareciam trair suas ascendências germânicas completavam o rosto de Taís.

Eu também estava nu ali, sob o corpo de Taís. Seu rosto veio de encontro ao meu e seus dentes se prenderam a meu lábio inferior, com a doçura de quem peca por gosto. Ela manobrou a pélvis de modo que sua buceta recebeu o caralho, esse caralho cansado que é meu, como se fosse um caralho novo, zero bala. Os pentelhos de Taís me arranharam a glande e a língua de Taís mergulhou dentro da minha boca. Dentro daquele beijo longo, os nossos quadris foram negociando com nossos sexos um encaixe ideal – ela querendo fricção e dureza, eu querendo a profundidade molhada.

Taís voltou para a sua majestade sobre mim após o longo beijo que resultou na penetração que a gente buscava um no outro. Naquele instante ela me olhou lá de cima como somente costumava fazer para os vídeos onde Alex Turner ou Joshua Homme aparecem empunhando ameaçadoras guitarras e trajam casacos de couro impossíveis ao alcance da humanidade terrena. O olhar de Taís durou meros segundos, menos que décimos, serenes átimos, mas existiu e eu registrei. Alguma coisa muito certa eu estava fazendo ali. Aquela percepção se juntou ao reino dos sentidos que me encharcava a piroca e de súbito eu não era mais um sedentário funcionário público que pesava quarenta quilos além do ideal, defasado por anos de álcool e tabagismo e sono irregular; não, eu era exatamente o homem que eu gostaria de sempre ter sido e aquela mulher estava prestes a ver as coisas das quais eu era capaz quando de pau duro.

De sua majestade, ela me ofereceu o peito na boca e então começamos a literalmente foder. Claro que o segundo período da frase anterior contém mais uma ideia mentirosa do que qualquer outra coisa, pois que já estávamos fodendo desde antes do primeiro parágrafo, mas o que quis dizer é que agora os dois percebíamos que não seria uma trepada de verão, dessas que a gente goza e depois se limpa e dali a uns tempos a gente nunca mais vai lembrar, se demorou, se foi rápido. O ambiente estava pesado e os corpos leves. Taís regia seu corpo sobre o meu com a precisão das supermodelos inglesas, a despeito de não sofrer de anorexia ou bulimia como é a regra entre as caniças magrelas internacionais. Taís possuía uma vastidão corporal com seios que jamais caberiam inteiros na minha mordedura e ancas que ultrapassavam as palmas de minhas mãos, além de um tesão que decerto caralho algum poderia dar cabo solitário. Eu precisava ser realmente sagaz para satisfazer aquela mulher, fazendo uso de cada recurso possível, dos fios de barba ao fio de voz.

Indo um pouco mais além do mero plano físico, se me permitem a digressão, ela emprestava toda uma graça a seus movimentos de maneira que, não sei ao certo, mas é uma boa aposta para quem quiser saber o que diabos havia naquela mulher para me despertar a curiosidade, a vontade, e por consequência analógica, a peia. Nem só de pão vive o homem, nem só na carne acontece a vida. Assim como seus quadris, aqueles olhos castanhos muito vivos (e as narinas que dilatavam, e a boca que beijava e mordia) não mentiam sem antes nos convencer de que neles havia uma verdade a ser lida. Taís dançava e sorria quando o fazia, ao sorrir na dança procurava o meu olhar para que ele fosse devidamente seduzido e eu quisesse continuar a querer mais dela - mais música, mais mistério, mais. Nessas horas, Taís me dava vontade de rir à toa (e não era à toa, era porque ela estava me fazendo feliz, mas essa digressão já começa a se perder em si, peço perdão pelo vacilo.)

Ela me fodia quando me dei conta do quão linda estava naquela tarde, naquela cama, dentro da sua tão própria nudez, a comandar a minha masculinidade a serviço do tesão que possuía. A graça. Os quadris. Os escuros bicos dos peitos. O desalinho dos cabelos e do tempo. Quis dizer a ela naquele instante que a adorava vestida de jeans e blusas justas, ver o desenho da carne e dos excessos no tecido, aqueles excessos que melhoravam tudo tanto. Ela me lembrava uma versão pornográfica da rinoceronte de Madagascar, o desenho animado, só que eu realmente não sabia como elogiar uma mulher a partir de uma rinoceronte, por mais que fosse uma rinoceronte ficcional e sorridente que se remexesse muito. A Taís que me aparecia ali era uma delícia, mas aquela delícia exótica que me excedia as palavras, tal e qual a personagem das telas excedia os traços. Aquela seria uma tarde de excessos, ao contrário dessa narrativa, que paro por aqui antes que Taís anuncie o gozo, o primeiro deles, na abertura de sua boca que enunciaria em viva voz o desejo por mim, por mais, por nós.

A mulher em cena naquele quarto, sobre seus quartos, sobre mim, sobreveio.

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