domingo, 3 de agosto de 2014

Desculpaí

Por que sinto saudades dessa pessoa que mal conheço e nunca encontrei? Não sei.

Mas sinto. Sintomas.

O abraço, o sorriso, o tom de voz num domingo de preguiça e ressaca e calma. Não conheço, nunca vi, só posso imaginar e mesmo assim imagino pouco, não é meu forte imaginar, eu só sou bom em ver as coisas e tentar entender - e nem muito bom nisso fiquei sendo, uso óculos, tenho surdez parcial, sou meio burro também. Aí vou lá no Facebook e favorito fotos antigas, de um tempo em que a gente não se falava por essa internet tão vasta, tão cheia de futricas mas que também coloca essas pessoas no nosso caminho.

Tenho isso de sentir falta de gente que não conheço, ou conheço pouco. De gente que nunca encontrei pessoalmente ou de propósito. Sinto essa falta dela hoje e não consigo nem levantar do computador pra tomar um banho ou fazer um café. Complicado isso.

(Pelo menos levantei e fui fazer o café. Vamos continuar, agora com café.)

Me sinto meio leso quando esse tipo de coisa acontece. Como se ter trinta e seis anos de vida e seis fossem a mesma coisa, no final das contas a gente só precisa mesmo é estar perto de alguém que a gente gosta. O resto é detalhe e prataria, prataria fina ou prataria reles, mas prataria. E aí me pego sozinho de cuecas vendo que não adiantou nada viver os tais trinta e seis últimos anos porque não aprendi a úncia parada que realmente importa nessa vida, cativar alguém a ponto de não estar sozinho neste domingo agora. Meio ridículo e dramático, porém, foco, a mensagem é que todos precisamos de alguém por perto.

Sou da turma que se emociona com o Lester Bangs conversando de madrugada com o William Miller pelo telefone porque ele está sempre em casa, he's uncool. “The only true currency in this bankrupt world is what you share with someone else when you’re uncool”, não é verdade? E também tem aquela frasezinha do Nick Hornby em Alta Fidelidade - “People worry about kids playing with guns, and teenagers watching violent videos; we are scared that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands - literally thousands - of songs about broken hearts and rejection and pain and misery and loss.” Sou dessas pessoas aí que citam ficção como se fosse um tratado sobre a vida, como se o filme ou o livro fosse sobre a minha miserável existência, idealizo mulheres, idealizo as coisas que mulheres me dizem e me fazem, idealizo pra caralho e depois faço algo bem fora do prumo para tentar ficar em paz comigo mesmo e a minha falta de sentido, como beber muito, escrever em blogs, escrever em blogs depois de beber muito.

(Acho que preciso de mais café.)

E daí essa falta que ela me faz, mesmo que eu nem saiba o nome dela direito. Mesmo que eu não saiba direito o que fazer diante disso tudo, se devo fazer qualquer coisa, se deveria apenas tomar um banho e ver tv ou passear com a Risoflora na Redenção porque faz uma dia tão bonito e eu sou uma pessoa avessa a sol, multidão, janelas. Sou uma pessoa avessa e muito mal resolvida, sou essa pessoa que escreve bem e fala mal, olhando pra baixo, calando as palavras que preciso em troca das que consigo. O que eu diria pra ela se pudesse agora? Diria qualquer coisa?

Acabei cometendo esse texto. Eu precisava. E o jogo do Flamengo é só mais tarde. Desculpaí.

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