segunda-feira, 9 de maio de 2011

Rosalinda

As bochechas rosinhas sobre o branquinho da pele ficaram tatuadas em minhas pupilas. Seu nome era Rosalinda, não à toa, e quase ninguém deixava de suspeitar que a moça brincava conosco ao se apresentar assim. Ademais, que moça em franca adolescência no final dos anos 90 ainda se chamava Rosalinda?

Rosalinda não só se chamava Rosalinda, tinha o odor das flores prometido dentro de cada beijo. Eu era apenas um rapazote muito jovem, jovem e poeta juvenil o suficiente para passar horas idealizando as moças que me apaixonavam e mais horas rabiscando versos a respeito delas, idealizadas, diáfanas, rosalindas. Em geral, confesso, para as mesmas moçoilas a quem eu dedicava versos eu também dedicava punhetas - poetas juvenis não faziam lá muito sucesso com as moças - e nisso aí, no amor solitário (uma vez poeta, poeta sempre), eu gastava a maior parte do tempo restante quando não idealizando meninas e as versando dentro das minhas capacidades.

Talvez se eu fosse um rapaz mais proativo e menos poeteiro, decerto os anos derradeiros da década de 90 me dariam lembranças menos fantasiosas dessas meninas às voltas com festas da faculdade, encontros estudantis, blusinhas justas e alcinhas de sutiãs vistosas. Era um tempo confuso, onde eu bebia muito e bebia mal, no que acabei por me notabilizar entre meus pares da faculdade de comunicação social em alguns meses - outros colegas já eram mais sábios e se notabilizaram pelo sucesso entre as meninas, percebam, esses eram felizes e sabiam. Eu me tornei o cara que era amigo delas, uma espécie de derrota moral das mais fragorosas. Elas conversavam comigo, bebiam comigo, dançavam comigo, liam as minhas poesias e até choravam no meu ombro mas jamais se atiravam a meus braços embriagadas e me roubavam beijos, não acordavam nuas ao meu lado, não se magoavam com as minhas mentiras.

Ocorre que se eu fosse outro que não eu, talvez Rosalinda haveria de passar adiante de meus olhos despercebida. E de Rosalinda eu não consigo abrir mão. Rosalinda sorriu desde a primeira conversa, ainda calouros, a cerveja meio morna e o som alto demais. Mesmo naquele ambiente, meus olhos de rapaz desabituados ao cinismo enxergaram as bochechas da menina que desenhavam covinhas nos sorrisos e rosavam sem mais porquê ou aviso, graciosas. Em meio a um monte de bobajadas e trocadilhos baratos, creio que a convidei para um cinema nos dias vindouros e ela, pasme-se, disse que sim.

Aconteceu o cinema, aconteceram mais festas, mesas de bar aleatóreas, conversas enquanto esperávamos ônibus após as aulas, trocamos e-mails, trocamos - anos dourados - versos! Rosalinda se chamava Rosalinda, fato, mas não era essa criatura bobinha e barata que lhes pareço vender, pelo contrário. Rosalinda tinha um namorado que era ciumento e incomodava a moça em função dos ciúmes. Brigavam de tempos em tempos e depois reatavam, era um desses amores fadados ao fracasso onde ambas as partes não querem terminar de vez por motivos que só dizem respeito a eles, mas eu desconfiava que o namorado de Rosalinda tratava era de comê-la muito bem comida sempre que se mostrava necessário, pois bem.

Um dia, porém, a sorte sorriu para mim. Foi numa dessas viagens de feriado emendado para um sítio de amigos onde celulares não davam sinal de vida e o namorado ciumento (porém ausente na ocasião) de Rosalinda não haveria de incomodar. Rosalinda sorria diferente, me olhava muito mais mulher que o usual, estava bastante próxima e muito atenta às minhas palavras durante toda a viagem. Se o beijo dentro da piscina naquele fim de tarde foi premeditado ou não, jamais me dei ao trabalho de investigar. Só lembro de me tornar em minutos homem feito, decidido, varão. 

Não restou mais nada que fizesse sentido a não ser nos metermos no primeiro cômodo vazio a nossa vista do sítio, um banheiro que ficava próximo da piscina. Com a pressa e o desespero daqueles que precisam ir com fome ao prato, Rosalinda me deitou embaixo de si, me baixou o calção e pôs-se sentada sobre a minha pélvis, enquanto eu procurava manter os olhos abertos e fixos naquela mulher. Eu queria gravar aqueles minutos na memória para o caso de nunca mais poder ver Rosalinda diante de mim se desvencilhando da parte de cima do biquíni logo após ter usado de uma mão decidida para colocar o meu ego dentro de si.

Eu, rapaz muito mais bobo que poeta, não poderia prever que aquela ocasião seria apenas uma primeira vez e que Rosalinda terminaria com o namorado ciumento na semana seguinte para se desvencilhar de biquínis e blusas e sutiãs outras vezes mais diante de meus olhos até o final da faculdade, quando ela foi embora para Londres e eu arrumei emprego em Porto Alegre. Gravei a sua voz me pedindo para não gozar dentro, gravei como seu rosto estava transformado durante essas palavras, gravei o cheiro de cloro que se misturou a suor e tesão no azulejo do chão onde estávamos, como ela sorriu de me ver gozando (felizmente, não dentro dela).

Sobretudo, gravei como a sua buceta era linda de se olhar, como se o odor das flores prometido dentro de cada beijo se transmutasse em carne e fenda no meio de suas pernas, lindas e rosas.

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