segunda-feira, 16 de maio de 2011

"I have forgiven Jesus"

O deputado federal Jair Bolsonaro representa uma grande quantidade de brasileiros que se ufana de sua moralidade transviada. Há mais bolsonaros por aí do que podemos supor, mas poucos tem a convicção e a certeza (e os microfones apontados para si) que recheiam as falas e ideias do nobre militar do Exército Brasileiro.

Bolsonaro, aliás, só tem os microfones que tem por conta da falta de pressão que a sociedade brasileira relegou aos crimes praticados pelo Estado Brasileiro durante o período da sua saudosa Redentora, entre 1964 e 1985. Enquanto uruguaios, chilenos e argentinos preferiram reabrir a tampa dos próprios porões para lá encontrar não somente seus mortos e desaparecidos por conta da política de extermínio ideológica posta em prática nos anos de chumbo do Cone Sul, mas especialmente os assassinos, mandantes e cúmplices que a puseram em marcha, no Brasil se optou pelo esquecimento, como se os 21 anos de Regime Militar não houvessem deixado consequências dignas de reparo.

A postura medrosa do país de não passar a limpo a violência praticada em nome da Segurança Nacional e suas consequentes reações (a esquerda também matou e também foi anistiada) é o que empresta a Jair Bolsonaro a sua moral. Entusiasmado defensor da tortura enquanto método de investigação policial, o deputado não vê impedimentos para defender em público que crianças homossexuais apanhem o quanto for preciso para se tornarem heterossexuais (sic).

Bolsonaro enfia na sua definição de imorarilidade tudo aquilo que ele não consegue compreender em função de uma estupenda ignorância. Não temos a obrigação de compactuar com a existência de um imbecil desse quilate a não ser que ele nos responda por seus atos e opiniões.

A melhor defesa contra o tipo que ele representa é que pressionemos a sociedade, nossos representantes eleitos para o executivo e legislativo, nossos juízes e promotores e procuradores a não deixar passar a oportunidade (e o tempo, sobretudo o tempo, o nosso bem mais caro) de passar a limpo as consequências e injustiças cometidas pelo regime de exceção que não apenas torturou, censurou, matou, prendeu e arrebentou, mas também, convém não esquecermos, roubou e se locupletou de dinheiro público enquanto obrigava a gente brasileira a vestir verde-e-amarelo e sorrir de medo.


Ps: Morrissey, roqueiro inglês, lançou em 2004 um álbum ("You Are the Quarry") onde a terceira faixa leva o título brilhante de "I Have Forgiven Jesus" ("Eu Perdoei Jesus"). Homossexual, Morrissey se declara no título da canção capaz de perdoar o grande símbolo da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, uma das instituições que menos toleram a ideia de um relacionamento entre dois homens ou duas mulheres - até porque ela mal tolera a ideia de se jogar sêmem ao léu numa salutar punhetinha. Versos da canção seguem abaixo.

"But Jesus hurt me
When he deserted me, but
I have forgiven you Jesus
For all the desire
He placed in me"

Desnecessário dizer, Bolsonaro passa longe da nossa ideia de santo.

Nenhum comentário: