terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quatro da manhã, por aí

"Devagar, vem devagar".

Sua voz saía em pequenas mortes, orvalho que não dura até a primeira hora da manhã.

Dentro dela era úmido e seus olhos não fechavam. Suas sobrancelhas eram grossas e seus lábios me buscavam. Entrei sem pressa, segurando os cavalos que galopava, era úmido mas não era tão fácil. Alguns pêlos seguiram adentro e roçavam a nós, olhos nos olhos. Ela se enterrava em mim conforme eu a invadia no breu daquela madrugada, a luz do abajur nos atingia com muita cautela e trotando eu ganhava o campo.

Seu corpo me penetrava as narinas e se mesclava com o lento do bagulho e a tontura do álcool, um cheiro quente feito pão, a naja à espreita deslizava entre os dobbermans nazistas. Senti finalmente que estava inteiro dentro daquela mulher, grosso e tenso, no limite de mim mesmo. Quis me demorar naquele instante pra saborear seus olhos imensos e os fitei com calma, como se meu sorriso pudesse lhes reavivar o negro. Os cavalos se impacientavam mas eu os manteria sob rédea curta, não era uma prova de velocidade.

Ela se retorcia e se espalhava naquela cama, dentro daquele corpo. Outra vez executei o ato de deslizar pra dentro de seu corpo e então a repetição tornou-se algo praticamente motora. O desejo tomou conta daquele quarto, finalmente e não cabia mais o exercício de prever o segundo que vinha depois. Animais estávamos. Animais seríamos. Animais fomos. Houve dor, houve sangue, houve pânico.

Sua voz subitamente calou-se na penumbra e sua buceta e todos seus pentelhos se prendiam ao meu pau duro que a escavava feito pagador de promessas. Os dobbermans ganiam em minha carne, os cavalos ganharam a pista e dispararam, ferozes. Se havia alguma razão naquele mundo, a razão era o gozo dela que chegava, suas mãos que rezavam, seus olhos branqueados, seu fôlego perdido, os seios cheios de leite e fúria.

Senti então o dilúvio que tomava conta de mim, a porra sendo expelida e a camisinha se enchendo e ouvi aquele urro que saiu de minha garganta, em seguida meu suor invadiu minhas narinas e me dei conta de que gotejava por todo o corpo, dos músculos em frangalhos, da garganta seca e dos lábios mordidos.

Ela, de olhos abertos, não reagia. Ela, de pernas abertas, não se fechava. Ela estava lá, comigo dentro dela em frangalhos e parecia não mais ter aquela noção que tinha de si horas atrás. O cheiro de seu gozo misturado à borracha do preservativo nos embalava e ela finalmente conseguiu me dizer "me abraça", molhada inteira ela estava e me puxou em direção aos seios, aqueles seios que intimidavam qualquer um e agora tão cálidos e confortáveis.

Era silêncio quando recomeçamos. E ela continuava tão menina.

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