terça-feira, 24 de julho de 2007

Sobre narizes e suas morenas

Quando Juliana me olhava, eu olhava para seu nariz. Havia um piercing nele e além havia toda a graça de um nariz redondo, quase a perfeição em função do aparelho respiratório de Juliana. Acho que ela não desconfiava no geral, tirante uma vez que ela chegou mesmo a perguntar:

- Meu nariz tá sujo? Ai, que vergonha!

Não, Juju, não estava. Nem um pouco sujo. Ela não poderia compreender algo que eu era incapaz de explicar racionalmente. Ela era uma morena de te derrubar com um sopro de seus cigarros mentolados que fumava entre as horas do dias, que eram tantas e não comportavam tudo que ela queria fazer. Tinha mais de 90 de busto e quadris e até samba no pé pra quem quisesse ver.

Mas sambava pouco e talvez graças a isso pudemos nos conhecer numa noite. Eu, fui literalmente pescado de dentro de mim e puxado para dentro dela. Havia urgência naquele encontro e nos beijamos como se daquele encontro dependesse o resto do mundo e nos beijarmos fosse a única coisa a ser feita. Naquela festa não tocaria samba pois era uma festa de róque, naquelas que os menos integrados no coletivo se voltavam para si e imaginavam uma guitarra em suas mãos, alguns feito eu.

Ela estava rindo após o beijo, não sei se de mim. Foi aí que reparei no nariz da morena. Ela perguntou meu nome e disse que pensou que eu nunca fosse prestar atenção nela. E disse que seu nome era Juliana. Mais não disse porque queria outro beijo. Assim foi.

Dei por mim após a segunda semana que gostava de adormecer com seu nariz respirando próximo a meu rosto. Ela, dorminhoca, se aninhava em mim e nem se mexia. Eu ficava vendo aquele desenho tão perfeito em seu rosto e pensava que jamais teria outro nariz daqueles, de forma que não precisava de mais nenhum.

Ela gostava dos dias de verão porque havia mais sol na rua pra ela desfilar. Usava grandes argolas e gostava de flores, nas estampas, nas sandálias, no cabelo. Eu só tinha olhos para seu nariz, acima daquele sorriso branco, acima dos mentolados, acima dos nossos beijos. Num dia de verão a surpreendi com rosas nas mãos e disse que seria dela para sempre, para todo o sempre, bastava que ela dissesse que sim.

Verdade seja dita, a resposta ela nunca deu propriamente. Ela se ajoelhou junto a mim e me calou com sua boca e felizmente estávamos em casa, porque no meio da sala sua boca beijou além da minha e vice-versa e coisas mais. Tinha coisa de três meses que morávamos juntos e ali naquele apartamento demos uma festa naquela noite pra comemorar.

Felizmente ao juiz de paz ela respondeu que sim, talvez porque preferisse que o beijo coubesse a mim. Eu olhava sua alegria e aquele nariz dono daquela morena. Ela mordia e segredava confissões pela noite, ainda dava pra ouvir os últimos convidados meio de porre na festa lá embaixo. E não havia nada mais bonito naquele quarto, naquela moça, naquela festa do que seu nariz.

Um comentário:

Unknown disse...

se esse nariz existisse acho que ele taria se torcendo de prosa, hein?
besos, cariño mio.