As mãos de Sputinik se espalhavam pelo meu braço que descansava em sua coxa de menina bonita demais para aquela cama desfeita e azul. Não era o azul do mar, do cruzeiro do sul, de uma ilíada a ser contada em língua morta, era um azul manchado - pelo suor, por noites mal dormidas, por sonhos que se perderam ali e nunca mais voltaram pra casa. As mãos de Sputinik exalavam uma inocência que já não havia em nenhum de nós havia tempo, desde antes de nós.
As mãos de Sputinik não tinham pressa em percorrer aquele azul de mentira, ou meu braço que se deixava invadir pelo frescor da morenice de sua carne, seus pêlos impossíveis, o desenho da coluna rasgando as costas e se dividindo em duas ancas que se demoravam alguns centímetros para se alongarem em pernas. Eu mordia de brincadeira, ela respondia com um riso secreto.
Sputinik não fazia menção de quebrar nosso silêncio. Preferia se manifestar em suaves movimentos, como um carinho de seus pés aos meus ou apenas ronronar quando minha boca e dentes acertavam um ponto fatal. Como se fôssemos dois estrangeiros em local incerto que temiam a separação. Como se as palavras fossem arrepiar aqueles pêlos que enterneciam sua linha do equador.
Foi em silêncio que Sputinik me olhou com ternura ao perceber meu tesão fisicamente exposto e então deslizou uma de suas mãos para envolver-me, dialogávamos. Ela ofereceu seus mamilos negros, sua macia boca, o umbigo adornado com uma jóia. Os olhos por vezes escapavam entre a vasta cabeleira mas se fecharam quando sentiu era de verdade a promessa que havia nas carícias anteriores, no azul desbotado.
E o silêncio de Sputinik fez-se um pranto de alegria dentro daquela noite entre nós dois.
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