Havia suor em sua fala, talvez porque naquele instante fodíamos um ao outro como se fosse nunca mais. A ironia é que era nunca mais, ao menos para nós. Ela e seus cabelos negros e a pele morena e as marcas do sol. Ela e a flor gravada acima da anca direita.
- O que você precisa entender é que eu preciso deixar a besta tomar conta de mim antes que eu morra. Você precisa entender.
Ela disse lábios nos lábios e quase dentes. Ela enfiou a língua na minha orelha e senti a pulsação que me exigia mais dentro dela. Me exigia todo até que eu não fosse nenhum, até que não fosse nunca mais.
- Se a besta não aparecer, aí eu morro ou me mato. Só a besta me deixa ser eu por inteira. Você precisa entender.
Uma mão me guiava até um peito e me oferecia a carne, o sumo, o leite. A outra impaciente cravejava de unhas minhas costas. Não havia mais o meu começo e o fim dela, havia o suor que nos unia como se nunca mais.
- A besta vai abrir meus olhos a qualquer instante e nada mais será o mesmo. Ela devora o que encontra. Você precisa entender.
Eu a revirei pelo avesso, as costas inteiras, a flor gravada acima da anca direita. A besta-fera à espreita e eu duro como jamais estivera antes. Foi sua impaciente mão quem me agarrou e trouxe de volta para dentro e a sensação de que o segundo que vinha seria nunca mais.
- Você precisa entender que eu te amo. Mas eu sou a besta.
Com suas mãos ela abria espaço para eu ir mais fundo dentro de seu corpo. De sua boca, vinha a besta ressucitada. Tudo respingava a suor. O cheiro negro em seus cabelos. O sol arquivado em sua pele.
- Goza dentro, por favor.
E entendi que nunca mais.
Um comentário:
Li.
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