Fiquei pensativo se não deveria simplesmente bater uma punheta e depois fazer algo de produtivo, ver um filme, plantar uma árvore, escrever um livro. Sairia certamente mais barato e seria mais enriquecedor para mim, para minha família, pra o mundo em geral. Mas o nome, Lisa, ficava ali na minha boca, repetindo-se, e derrotando Samantas, Alines, Giovannas. Loira, corpo de violão, boca de céu, oriental exótica, negra felina, topo tudo, tenho amigas inacreditáveis, transexual melhor que mulher. A tudo isso a sutileza de Lisa, 23 anos, morena, mignon derrotara.
Meus pareciam dedos de aluno de sacerdócio ciscando os números e a voz quase falhou diante da provável voz de Lisa que atendeu a chamada. Perguntou endereço, disse que adorava anal, que era bem discreta e deu o preço. Cento e vinte fora o meu táxi, amor. Você me paga ao final. Você me quer agora? Lisa era uma profissional. Não que eu tenha sido homem de colecionar mulheres, mas eu realmente me impactara com o metal daquela voz. Se ao telefone já me levantava o falo, como seria abafada por ele às portas de sua laringe inchado de sangue e porra. Lisa poderia aparecer o mais breve possível.
Quarenta minutos se passaram e eu ali, em minha sala, o dinheiro separado na mesa, a cama arrumada no quarto, o frio instalado lá fora. Conforme o combinado, ela tocou o interfone e se anunciou, eu abri pelo interfone. Ela já sabia do número do apartamento e subiu sem maiores intercursos. O perfume era forte, vestia um sobretudo de couro vinho, calças jeans bem justas e tinha botas pretas e salto, de camurça. O cabelo negro ainda conservava algum tom da tintura anterior, algo caindo pro bordô, bastante escuro. Sorria parecendo natural a um estranho que oferecera dinheiro cash para possuir seu corpo por um par de horas.
Andou pelo pequeno apartamento de quatro cômodos, deixou seus pertences na mesa e sugeriu um cigarro antes, certamente percebeu a tensão camuflada de poucas palavras e sorriso incerto no estranho. Tinha pouco mais de metro e meio, mas tinha olhos grandes, a voz de lâmina, uma bunda que valia pelo cachê. Foi inevitável me ver penetrando aquela bunda, minhas mãos a segurando pela cintura, seus cabelos descendo as costas e o cu devorando a mim como se fosse o último pedaço de carne do churrasco. Mas para isso, ela nem precisaria ser puta. A diferença é que sendo a imaginação poderia virar realidade ao bolso do freguês.
Eu permiti o cigarro, ainda que estivesse tentando largar o hábito porque começara a detestar meu hálito pela manhã. Havia cinzeiros pelo apartamento. Havia até um isqueiro que meu subconsciente não deixava ir embora. Fiquei vendo Lisa me acalmar para executar melhor seu serviço, ela era agradável. Fomos para o quarto e ela então beijou aquele homem que jamais vira como se fosse o natural a ser feito. De seu bafo vinha um perfume que lembrava uma antiga namorada que um dia me pedira que eu marcasse minha arcária dentária em suas costas. Minha boca logo descobriu os seios, que não eram de silicone.
Eu estava num dia bom. Não lembro o porquê, mas eu me mostrava à altura dos dotes de Lisa. Ela sorria. Ela miava e rosnava. Ela se pôs de joelhos como em meu delírio e os cabelos descendo as costas e as mãos firmes na cabeceira da cama e seus olhos de soslaio me vendo entrar. Ao final me xingava e pedia força, pedia porra e pedia sangue. Era um ato que executava, ela devia ter um número decorado com deixas preparadas por cada freguês. Quis descansar depois, nua na cama em meu regaço e eu deixei, ela merecia, eu estava outro, novo e desfigurado.
Me liga, gato, foi o que ela me disse ao sair. O telefone celular tocou antes de alcançar o elevador. Ela atendeu e logo percebi que outro iria rapidamente perguntar o cachê.
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