segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pelo telefone

O telefone tocou uma, duas, três vezes. Parou de tocar quando eu finalmente atendi, lá pela sexta vez. Era bastante avançada a hora e o toque parecia ainda mais estridente, mais invasivo.

Lá estava eu de pé, sonolento, ouvindo o sinal de ocupado na linha. Domingo de noite, vários toques, nenhuma nova tentativa. Deveria ser Diana, era bem típico, ligar numa hora que eu talvez não atendesse pra não correr o risco de ter que conversar comigo novamente. Era o jogo dela.

Diana estava noiva, se não é que já havia casado então. Eu soube do noivado por mero acaso, por amigos de amigos do noivo e isso já fazia um tempo. Nos conhecemos antes de seu noivado, numa dessas ocasiões onde se bebe além da conta e o que pude entender que ela havia tido uma rixa com o namorado na antevéspera.

Eles reataram o namoro menos de uma semana depois, mas foi o tempo necessário para ela fazer um trato comigo que não foi exatamente um trato de comunhão de bens. Dei meu telefone e email a ela e sempre que ela quisesse só teria que dizer a hora e o local; eu só responderia caso eu não pudesse ir. Depois de um mês, apareceu uma mensagem no celular: "Alvarado Motel, terça, 19h".

As regras do jogo eram todas implícitas mas eu deveria pagar a conta do motel, não deveria perguntar sobre sua vida particular, nem deixar marcas no seu corpo. O jogo já durava quase oito meses, fora posto em prática seis vezes. Depois do terceiro encontro, começaram esses telefonemas em horas improváveis. Atendi um deles e uma Diana cheia de medo e silêncios ficou dez minutos na linha. Pediu desculpas, disse que precisava falar comigo e não conseguiu, ficava tropeçando nas palavras e no silêncio.

Atendi mais quatro iguais e parei de ter pressa para atender as ligações. Ela não tinha obrigações comigo e estava com as rédeas do jogo nas mãos. Não tinha porque se sentir culpada.

Naquela noite, de pé, o telefone em mãos, quebrei o trato e liguei de volta. Após dois toques ela atendeu. Eu não pedi desculpas e tampouco me identifiquei. Disse a ela que gostava da voz dela quando pedia pra ser enrabada, o jeito como ela se oferecia. E desliguei, sem saber ao certo se havia gostado daquilo ou não.

Dois dias depois apareceu uma mensagem no celular: "Alvarado Motel, amanhã, 19h". Quando entrei no quarto, ela já me esperava sobre a cama, oferecida. Apenas me olhou e ordenou, senhora do jogo: "Vem, me enraba".