Ela gostava de ficar por cima e então se mexia como se fosse música, mas era eu apenas que não cansava de olhar o corpo dela, os músculos, o umbigo, as imperfeições todas.
Vinha logo o cheiro e eu ficava muito excitado com o cheiro que vinha, de calor, de coisas que não confessávamos, do meu pau, da buceta dela. Quando aparecia o cheiro, era como se houvesse um recomeço e a nossa foda finalmente estava acontecendo e aí podia cair o mundo, todas as bombas atômicas em desenvolvimento, todos os governos eleitos democraticamente.
Sintonia fina.
Ela por cima me olhava e tomava conta de que nada fosse me faltar, nenhum beijo, nenhum pedaço. Se oferecia a mim, a minha boca, ao meu caralho, às minhas mãos. Parecia gostar daquilo, daquele se dar, daquele se dar a mim. Nossas bocas acabavam se encontrando no meio e se demoravam, se mordiam, se juravam, mesmo que fosse apenas por falar, por cobiça.
Nenhum dos dois reclamava.
Não era sempre que ela queria que eu gozasse com ela por cima, mas quando queria, ela ia na frente e me arrastava com todas as unhas que o diabo havia lhe dado. Ela também gostava de me deixar por trás, de joelhos e ela se punha feito felina, nas quatro patas, o rabo empinado. Eu me sentia o maior dos garanhões.
Porque ela queria que fosse assim.
Assim foi até que algo saiu dos trilhos e nunca mais ela empinou o rabo, nem eu lhe parecia um negro gato. Nunca fui capaz de entender o momento da ruptura, quando tudo começou a simplesmente se desfazer e um dia nus, concordamos que aquilo já não precisava, nem deveria ser. Ela se vestiu e me pediu pra dormir no chão.
Ela acordou e eu já tinha partido.
Terminei a noite, já manhã feita, sozinho no banho, o pau duro e gozando por uma mulher que não me pertencia mais. Foi amargo e ela soube por mim meses após, num encontro casual. Ela estava diferente, mas era ela ainda e sorriu ao escutar, fez mais que sorrir, fez algo que eu não conhecia porque era ela, mas outra forma.
Ela então conseguiu outra vez ficar por cima e se movia feito luta, mas continuava sendo eu apenas. Eu não cansava de olhar o corpo dela, os olhos, a boca, os cabelos, os dentes. Todas as nossas imperfeições cheirando a porra, a mágoa, a coisas que não deviam ter sido enunciadas.
De todo modo, ainda era ela.
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