Elas eram negras e ele nem tanto, mas quem sabe? Naquela hora, creio que fazia pouca diferença, ele ali naquele sofá, elas em outro, entre eles uns centímetros e no chão um tapete meio encardido. Uma era mais negra que a outra, outra se fazia mais negra que uma. Pareciam irmãs ao final das contas, o que não eram, eram apenas muito amigas e dividiam o mesmo sofá.
O sofá estava dentro de uma sala, que mesmo pequena, abrigava o sofá dele, o tapete, a tevê, o vídeo, uma estantezinha e livros e quitutes vários, fotos, cerâmicas em miniatura, um cinzeiro. A sala não era tão pequena assim, pelo que se percebe, era mais claustrofóbica do que pequena propriamente. A sala era parte de um apartamento de 2 quartos, uma cozinha e um banheiro no sétimo andar que entre suas maiores virtudes estava o baixo valor de locação. Era barato mas era digno, o apartamento onde eles estavam tinha até uma certa graça.
As duas moças negras dividiam o aluguel daquele apartamento sito a meia-hora do aeroporto de Congonhas, na direção da Zona Norte da cidade. Sim, a cidade de São Paulo, fundada São Paulo de Piratininga por portugas jesuítas e bravos no ano da graça de 1554. Ele estava ali por convite delas e por livre e espontânea vontade. Era noite de uma terça-feira e estavam os três a tagarelar e a rir após uma ligeira beberagem ocorida alguns metros abaixo, que no pé do prédio onde estavam funcionava uma bodega muito da simpática.
Tagarelavam randomicamente, o objetivo final era apenas um pouco de riso, algo que destoasse de todo o resto e lhes parecesse melhor que as horas que aguardavam no porvir, cercadas de obrigações - algumas contratuais. Uma delas se lembrou, "Sabia que tem uma garrafa de rum fechadinha embaixo da minha cama?", e eles não sabiam. Em poucos instantes, a dita encontrava-se aberta, passando entre aquelas mãos e bocas.
Foi ele quem desafiou uma a beber da boca de outra, no chiste. Foi a outra quem se apossou da garrafa e derramou o rum em sua boca. Uma delas achou demais aquilo, fez que não, de jeito nenhum e poderia emporcalhar o sofá. A outra então avançou e aos olhos dele, aquele rum escorreu entre ambas. Não pareciam mais irmãs, decerto. A garrafa estava posta de lado, quase vazia, no chão sem mais o que fazer. Ele, no sofá, observa aquele par de serpentes de ébano protagonizar cenas que ele sequer sonhava, e a boca de uma não se desprendia de outra. O tempo pareceu congelar, mas não era o tempo, eram elas que se desamarraram e agora exigiam dele algum tributo.
Uma se desfez da camiseta e surgiram seios com os mamilos escuros feito a noite melada de jabuticaba. A outra desceu a calcinha e subiu as saias, restando a seus olhos o breu entre suas pernas e dentro da noite o róseo da carne. No meio de si, ele sentia o imponderável lhe pedindo a urgência e feito instinto, levantou-se sólido diante delas. Deixou que elas se encarregassem dos pormenores. Deixou-se levar.
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