Seus lábios eram grossos, como se não fossem de carne. De vez em quando, entre eles apareciam dentes alinhados e cruéis feito dobbermans nazistas. E ela era só uma menina.
"E você, malandro, vai ficar aí só me olhando? Tenho hora pra acordar amanhã."
A voz que escorria entre os dobbermans ganhava meus ouvidos feito água quando mergulhamos no mar. Seus olhos é que tinham o poder naquele rosto, que é o que eu me permitia me fixar neles apesar do farto decote, dos fartos seios, dos fartos sonhos. Os olhos eram vastos, talvez mais vastos do que negros.
Ela se levantou e disse que traria mais uma cerveja após a toalete. "A toalete", gostei disso, acho que foi aí que comecei a pensar com malícia. Ou talvez porque, enfim, ela se levantou. Já havia reparado no conjunto como um todo, mas sem um olhar mais objetivo. E havia aqueles seios que caminhavam com ela, eles desconcentravam o foco.
Ela vestia uma saia prendada, preta. As pernas desciam generosas e desciam, como desciam. Levei severos e dramáticos segundos de meia-calça arrastão grafite até pés postados em saltos, as panturrilhas com destaque nesse tobogã. As costas estavam parcialmente a mostra, da saia subia um vestido como se fosse uma fantasia de fada, que seria inocente em alguém sem aquele corpo. Aquele corpo não tinha muita coisa de inocência a meus olhos.
Os homens que estavam ali em seu caminho prestaram reverência, um deles literalmente tirou o chapéu. Ela tinha o dom, caminhava como se flanasse nos espaços mais límpidos do Senhor, como se nas costas levasse asas e batesse, no lugar das omoplatas. E logo uma guinada à esquerda a retirou de meu campo de visão, ela havia alcançado o pecaminoso toalete.
Seu desafio pré-toalete reverberava naquele meu organismo. Logo ela estaria de volta e me cobraria o resto da noite. Ela, os seios, as pernas infinitas. Os olhos vastos, os dobbermans. Tratei eu mesmo de garantir a próxima rodada. O garçom me serviu com um sorriso malicioso.
Ela iria logo voltar ao quadro, e, sem uma decisão, eu seria humilhado. Ela voltaria confiante, os seios agora caminhando em minha direção, a me confundir o pensamento. Seios quase negros dentro daquela morena, fartos, nascidos para o amor. Se eu tentasse fugir dos seios, havia as pernas, a meia-calça arrastão e profundo infinito em seus olhos. Se eu não dominasse a situação, a situação acabaria dando cabo de mim.
Ela voltou, soberana, rainha do bar, asas nas costas, a saia ainda prendada. Na mesa, o copo já estava cheio à sua espera. Ela sorriu, desarmou, "Que delícia!". Deu pra ver através da mesa as pernas saindo do cruz e se abrindo, inocentes e discretas. O perfume já se sabia menos secreto de seu dorso.
"Vamos?"
Haveria resistência? Haveria razão? Me dediquei a pagar a conta e seguir seus passos. Ela rebolava gostoso. Ela mal sabia que a promessa de seus lábios e dobbermans poderiam me fazer o pior dos homens sobre a Terra. Mas ela não era qualquer uma e rebolava gostoso do mesmo jeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário