sábado, 22 de setembro de 2012

Play it again, Sam

Outra noite maldormida. Quando o dia amanhecer, as pessoas e seus barulhos, o meu rádio-relógio e suas notícias, o sol e sua maldita iluminação, todos irão invadir o quarto onde não consigo dormir e avisar que o tempo vai seguir adiante. Pelego que sou, irei atrás, como se fizesse sentido.

Mas não vai fazer, não.

Os olhos passarão o dia lutando contra a louça, o cachorro, o supermercado, o telefone celular, a programação na tevê. A tudo os olhos examinarão procurando em cada fresta o perfume, o calor, a sombra, o mistério que eles só conhecem porque um dia, em meio a tudo isso produzido para que eles se distraiam, verdade, um dia eles puderam ver você.

Você, uma mulher. Não apenas uma mulher - posto que há várias a alcance das vistas mais ceguetas - mas uma mulher que se deixa ser descoberta por esses olhos que possuo, apesar de míopes e nada precisos, apesar de cínicos e mentirosos sempre que lhes convém. E olhar você, você assistindo televisão, você distraída na rua, você duvidando de mim, você se despindo para nós, você descendo as escadas, talvez tenha sido a melhor coisa que esses olhos puderam fazer.

Depois de você veio o sono fugaz, os olhos relutantes, essas tentativas de palavras. Não vai dar tempo de aguentar toda essa espera. Escrevo para distrair e enganar o meu corpo, para que ele creia e consiga de algum modo convencer o mundo que é possível que cada parágrafo mal construído desses é uma peça de roupa que você retira, enquanto caminha pelo mundo afora, me convidando para entrar em você.

Desejo sua carne feito lâmina cega. Nada que me impeça de deixar a minha língua bastante afiada, veja bem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o ' você se despindo para nós'. Vc devia escrever mais...

Karla disse...

Meu favorito.