Ela ajoelhou e sorriu. Pegou dentro da bolsa um batom e reforçou o vermelho nos lábios. Ela guardou o batom e me segurou com uma das mãos. A boca se abriu e se encarregou de me engolir o músculo. Havia método, graça e fé naquela mulher que me chupava o pênis.
Ela não tinha pressa. Era como se aquela ereção não me pertencesse e ela estivesse no comando; como se o quarto, o barulho do ar condicionado, as buzinas do trânsito, a luminosidade da lâmpada e a ação das minhas gônadas estivessem todos sob ordens daquela mulher e sua fé.
Ela havia esperado meses. Ela havia perdoado atrasos. Ela ligou avisando que me aguardaria naquele quarto, naquele dia, naquela hora. Não faria sentido esperar mais. Não era um convite, não era uma sugestão, não era algo que a minha opinião pagã tivesse poder de voto: era um auto de fé. "Ou você aparece, querido, ou não precisa mais aparecer", e desligou.
Não se judia da fé alheia.
Quando reabri meus olhos, ela continuava lá. Os lábios continuavam na lida e nessa toada que parecia cada vez menos finita me tingiam de vermelho, deixando o caminho escrito na pele, as palavras da salvação. Santificada seja a nossa foda, venha nós o nosso gozo, assim na cama como no chão, favor nos deixar cair em tentação, amém.
Posso jurar que ela abriu os olhos e foi nesse átimo, onde o tempo e o espaço são matéria subjetiva, poesia mesmo poder-se-ia arriscar, de seus olhos em súplica diante de mim que percebi que as preces daquela mulher seriam atendidas. A porra saiu de mim feito a verdade e a vida.
A mulher recebeu a prova da fé nos lábios. Os lábios agora menos vermelhos se lambuzavam de rosa e branco. Não há carne nesse mundo capaz de resistir à força da fé.
Dentro daquela boca estava a primeira parte do nosso evangelho. Ela de joelhos, eu de pé, o tempo longe. Me pus de joelhos e ela sorriu. Avancei para o beijo e dentro dele veio o sabor abençoado de um fruto sem ventre. Em algum canto daquele quarto, em algum espaço entre nossos corpos, devia estar sibilando uma serpente.
Ou decerto havia uma vermelha maçã perdida na penumbra de nossos suores.
3 comentários:
uma prece que ainda não foi ensinada sempre cai bem na boca de um herege.
incrível, man.
Não fosse meu ligeiro constrangimento ao ler esse texto... Tá, deixa pra lá essa parte.
Fiquei impressionada. Você tem as palavras nas mãos.
Após alguns dias, digeri o texto.
Pornograficamente belo.
Parabéns!!!
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