quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ouro Preto

Andávamos em silêncio, dois amantes. Ainda que o amor não estivesse mais entre nós. O amor é complicado e eu não sou paciente, acabo dificultando demais e aí o amor se perde em reminiscências, períodos longos, vírgulas fora do lugar, adjetivos em excesso. A culpa era toda minha por aquele amor fracassar. Eu fracassei. Andávamos em silêncio e ameaçava chover.

Sentamos para almoçar e ela sugeriu a lasanha. Pedi uma cerveja, mas ela pediu uma coca dietética. Quis dizer que ela ficava linda em silêncio, mas acendi um cigarro e deixei por isso mesmo. Havia algo de diferente entre nós e eu finalmente havia percebido, após tanto tempo. Eu queria não sentir raiva, fingir insignificância, conversar sobre nós dois e o resto do mundo. Só consegui agradecer ao garçom pela cerveja e pedir um cinzeiro.

Não sei se ela me odiou por aquele silêncio, aquela cerveja e mais nicotina no ambiente. Veio a dúvida se ela havia me amado pelos amores jurados, pelas noites em claro, por tanto mar. Pela primeira vez em muito tempo tive dúvidas do que dizer a ela para quebrar a minha ausência naquela mesa, e só estávamos nós dois sentados ali. Tive medo do que dizer. E nem queria que fosse nada importante. O mais importante não precisava ser dito, já estava estampado naquela fotografia viva do casal – ele olhando para dentro da cozinha, ela olhando para a rua.

Ela sorria, de leve. Sorri de volta. E a tarde passou.

3 comentários:

Unknown disse...

lindo

Anônimo disse...

Eu posso ver a fotografia, mas espero não fazer parte dela algum dia.

Rosi disse...

Todo relacionamento tem um fim... Eis a lei da vida (ou do amor).