Veio lá de quase no horizonte a onda e quebrou toda doce a seus pés. Ela estava descalça e seus pés bem juntos, pra deixar a areia dançar entre eles enquanto a água molhava. Quando a onda voltou pra dentro do rio, ela mexeu os dedos, feito moleca e baixou a cabeça, baixou os olhos e ficou daquele jeito, menina olhando os pés se banharem na areia e nas ondas que vinham mansas e voltavam devagar.
A brisa vinha devagar e morna, passeava em seus cabelos, soprava em seus ouvidos, brincava na barra do vestido. Só estava Caroline ali e todo o rio que banhava a areia onde ela pisava, atrás havia vegetação e uma casa sendo banhada pelo mormaço que já tratava de aprontar das suas. Olhou para aquele horizonte e andou para dentro do rio, a cada passo a água lhe subindo um tanto mais, pés, tornozelos, canelas e parou nos joelhos. Num leve movimento, tocou a água com ambas as mãos e fez uma carícia toda sua no rio, de olhos fechados como se o rio fosse seu homem adormecido e as ondinhas fossem a pele, a carne, as dobras e os músculos que ela tocava.
O toque de seus dedos naquela água gerava uma música só dela e ela abriu os olhos e ressurgiu toda aquela força da natureza diante dela, que a abraçava suave e lhe transpassava, sequer respingava na barra do vestido curto de veraneio de tão mansa. O tempo não parecia existir enquanto ela quisesse estar ali sob o sol. Ela imaginava que por trás do sol seu homem a observava, calado, os olhos matreiros e dissimulados que buscavam em seu corpo de mulher fantasias e outros signos.
Ela gostaria de tê-lo por perto, mesmo que apenas repousando numa sombra para que ela pudesse ter a seu alcance o cheiro dele e o ritmo de seus batimentos na palma de uma das mãos. Queria ouvir dele a alegria do sorriso, o sossego de silenciar a dois. Caroline gostava daqueles silêncios onde os dois se bastavam em estar juntos, às vezes os olhares se esbarravam em outras vinha um afago, mas bom mesmo era quando vinha um beijo – e ela se demorava no beijo, ele tinha um gosto bom, um gosto de quem esperava pela sua boca, um gosto que mordia.
No primeiro beijo ela sentiu que ia gostar, que iria repetir, que iria até pedir beijos quando desse. Sentiu a parede contra seu corpo e se deu conta quase no fim do beijo ele se enrijecendo dentro do jeans, o abusadinho. Na segunda vez ela gostou, foi ela até quem procurou o beijo, um beijo melhor, um que fosse só dela pra ela guardar nos lábios e lembrasse quando fosse tomar um gole d’água, ninguém saberia, mas ela ia sentir o moço sedento enquanto a água lhe tomava a boca.
Quando deu por si, estava enamorada do moço, ele sedento, rijo, a língua no macio de sua vulva. Pedia mais e suspirava, queria ele todo, sabia que ele se daria assim, ela suspirava e fechava os olhos e ele lhe afagava o umbigo, apertava as mamas e então ela gania. Foi como se o mistério de si finalmente se revelasse naquela tarde de tempo feio e o rádio tocando uma banda de pop sueco era testemunha da revelação. Olhos abertos, gravou a imagem daquele moço entrando fundo em si, nos lábios dele ela sentia o gosto dela, ele suspirou quando se sentiu aconchegado nela que só fechou os olhos quando ele iniciou a velha dança, e a cada vinda a suavidade sendo transformada em mais desejo, o amante se revelando um pouco mais chucro.
O mistério decerto havia sempre habitado seu corpo e seus pensamentos, ainda que ela não se apercebesse do ocaso. Mas quando seu homem de fato fez-se dela, na cumplicidade da carne, algo novo se desentranhou em Caroline e ganhou suas veias e as artérias, descobrindo-se em cada poro, em cada secreção, em cada átomo, diria um obsessivo que resolvesse descrever o fato. Caroline sentia-se inteira, tinha certeza que finalmente ela possuía dali pra frente a chance de saber seu real alcance, sua real coragem. Ela não estava pensando nada disso, mas seu corpo assim lhe comunicava por maneiras que ela captava sem nem ao menos procurar saber. O que ela sabia era que aquele homem era diferente de qualquer outro anterior.
A visão do falo dele a lhe abrir foi o que mais lhe impressionou, era a que mais lhe ocorria durante os sonhos e saudades. Aquele homem que pouco falava e tanto lhe queria foi quem lhe tornou de fato mais mulher que qualquer outra coisa, através do desejo, das ausências, dos silêncios e da saliva. Amava com todos os seus dentes, sentia às vezes gana de desfiar aqueles músculos para investigar que peripécias haviam de habitar o interior dele, o que ele possuía que ela não conseguia abandonar. Outras vezes, geralmente perto de suas regras, sonhava que acordava de um sono profundo e dava por si que o homem na verdade era parte de seu corpo, habitava o fundo de suas pupilas e só vivia dentro de seu olhar. Então, dentro do sonho ela fechava os olhos para ficar apenas com a visão dele em si, observava seu corpo dentro da vastidão do escuro que abraçava a noite.
Caminhou mais um tanto dentro do rio com o gostoso roçar das águas em seus joelhos. A casa de alvenaria branca ficava umas dezenas de passos mansos às suas costas, dentro dela a cozinha com fogão e geladeira, a sala com uma grande janela, o quarto com suíte, a varanda onde ficava a rede e a rede onde seu homem gostava de se deitar vagabundo e lá se deixar ficar, ao balanço das horas até que ela se chegasse fresca do dia, do mato, do rio e do sol.
Um comentário:
:) muito bom hem! parabéns beijossss
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